163. Guerrilha do Araguaia – 1967-1974

A Ditadura Militar foi um período sombrio de nossa história, quando analisadas as liberdades individuais. Com início em 1964, como mostrado em nosso texto anterior, se estendeu até 1985. Foi uma época muito vasta e bastante heterogênea. Tivemos momento de grande repressão, como no governo Médici, assim como a distensão dos governos posteriores. Tivemos grande crescimento econômico, durante a década de 70, depois vieram os complicados anos 80.

Os próximos 3 textos de nosso blog têm como objetivo destacar alguns eventos ocorridos durante este período do Brasil. Escolhidos a dedo, eles representam uma pequena fração do que ocorreu em nosso país naquele dificultoso momento.

Guerrilha do Araguaia

No final da década de 1960 um grupo de brasileiros, a maioria ligados ao PCdoB (Partido Comunista do Brasil), montou o maior movimento armado contra a ditadura no Brasil. Lembrando que naquele momento a organização estava na ilegalidade. A inspiração vinha de movimentos comunistas que eclodiam pelo mundo, como a Revolução Cubana.

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Local onde se desenrolou a Guerrilha do Araguaia. Imagem: Internet

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O nome é geográfico, já que os guerrilheiros se estabeleceram próximo ao rio Araguaia, nas divisas dos estados do Pará, Maranhão e Goiás (hoje Tocantins).  A escolha do local tem relação com a própria floresta amazônica, já que ali era o início da intrincada formação vegetal, com muita umidade e calor, dificultando as ações do exército em caso de confronto. Eram cerca de 70 pessoas, dividias em 3 destacamentos que nunca paravam de se mover na mata. Circulavam por uma área de 6.500 Km². Durante cerca de 5 anos (1967-72) treinaram sobrevivência na selva, se ambientaram e aprimoraram técnicas militares.

Militares brasileiros na região do Araguaia. imagem: Internet.

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A intenção era se fixar na região, conquistar a simpatia dos moradores locais e atrair cada vez mais brasileiros na luta contra o regime militar. Inicialmente seria uma revolta camponesa, que depois chegaria as cidades, instaurando um governo comunista em nosso país. Além dos militantes políticos, estudantes, profissionais liberais de vários setores e camponeses se juntaram ao grupo em uma aventura quase suicida. Uma ideia utópica, mas que havia dado certo em Cuba.

Durante 5 anos deram seguimento ao plano e fortaleceram os laços de irmandade entre eles, até que o serviço de inteligência militar descobriu o plano. O ano de 1972 foi crucial, e marcou o início do fim. Os militares prenderam, interrogaram e torturaram alguns militantes que haviam desistido da guerrilha. Assim, chegaram aos nomes, localização e objetivos do grupo.

Em 3 grandes operações (papagaio, sucuri e marajoara), cerca de 5 mil militares se envolveram de alguma forma no combate aos guerrilheiros. O extermínio dos combatentes rebeldes era primordial para debelar o problema, além de desestimular outras tentativas.

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Comboio de militares brasileiros chegando na região do Araguaia. Saiba mais em Estadão/Comissão da verdade.

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A primeira incursão foi na força bruta. Militares entraram na selva com seus armamentos e veículos pesados, mas não conseguiram vencer os guerrilheiros, já bastante familiarizados com a região. A derrota mudou os planos dos comandantes, que passaram a dançar conforme a música, infiltrando agentes na região, transfigurados de agrônomos, investidores rurais ou qualquer outra dissimulação.

Dinheiro correspondente a compra de um bom terreno era dado ao caboclo local que denunciasse a localização de algum guerrilheiro. Também espalharam que os guerrilheiros eram bandidos, terroristas russos e cubanos tentando dominar o Brasil. Muitos locais foram presos por suspeita de ajuda ao movimento. Torturados, eram forçados a delatar o que sabiam. O uso massivo de militares, e também de métodos não convencionais, foram sufocando a guerrilha.

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Militares brasileiros na região do Araguaia. O exército não poupou esforços para resolver o problema. Imagem: Internet

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Os insurgentes não tiveram a menor chance contra tanques, aviões, fuzis, milhares de homens, dinheiro e todo aparato estatal.  Ao final de 1974, a maioria dos revolucionários já havia sido morta, 41 após a prisão, executados. A imprensa, censurada pela ditadura, só noticiou o caso depois do ocorrido.

Entre mortos em combate e presos assassinados, 70 corpos nunca foram encontrados. Até os dias de hoje famílias buscam esses restos mortais para darem um fim digno a seus parentes. Em 2014, a Comissão da Verdade divulgou um depoimento de um sargento dizendo que somente o Major Curió, referência no combate aos rebeldes, saberia dizer onde estavam os corpos. Porém, o militar sequer foi a audiência.  Leia mais no site do jornal O Globo.

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Militares observando os corpos de alguns guerrilheiros mortos. Imagem: Internet

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Para sermos justos com todas as famílias envolvidas, não podemos deixar de lembrar que cerca de 20 militares brasileiros também foram mortos pela guerrilha, causando dor e sofrimento a seus parentes.

Para os jovens de hoje, a Guerrilha do Araguaia pode parecer uma grande insanidade. Mas naquele período da história, para alguns militantes de esquerda,  era única saída encontrada para se opor ao regime. Nessa mesma ótica de levante comunista, surgiram as FARC na florestas colombianas e o Sendero Luminoso no Peru.

A lista com todos os guerrilheiros do Araguaia está disponível no site Wikipédia, confiram. É interessante ver a história de vida de cada um. Em 2014, foi lançado um filme contando a história do mineiro Osvaldo Orlando da Costa, líder da guerrilha que se tornou mito na região.

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Confira a sinopse do filme no site Adoro Cinema.

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Outras Guerrilhas

Outros movimentos guerrilheiros tentaram se instalar no Brasil, mas foram irrelevantes ou pouco fizeram.

Em março de 1965 um grupo de 23 combatentes tomou um quartel da polícia (brigada no RS) e um presídio. A ideia era tomar vários quartéis do exército e iniciar um levante contra o governo. Invadiram uma rádio e de lá fizeram um discurso conclamando a população a luta armada. Em 3 dias foram cercados e presos pelos militares. O grupo ficou conhecido como A Guerrilha de Três Passos, nome da cidade gaúcha onde ocorreu o fato.

Entre 1966 e 1967 um grupo de ex-militares iniciou um movimento de guerrilha na divisa de Minas Gerais com o Espírito Santo. Inicialmente, contaram com algum apoio financeiro cubano, que depois cessou, deixando os guerrilheiros completamente a mercê do gelado clima local. Com fome e doentes, foram facilmente localizados e presos pela policia mineira. Ficaram conhecidos como a Guerrilha do Caparaó, serra onde se desenvolveram os fatos.

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Foto do momento em que os guerrilheiros do Caparaó foram apresentados a imprensa. Imagem: Internet

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Interessante lembrar que após a prisão dos guerrilheiros foi mobilizado um grande aparato militar na região. Fizeram uma incursão cinematográfica na serra, usando aviões e tanques. Foi uma demonstração de força completamente desnecessária, já que ninguém mais foi encontrado.

Heróis para uns, subversivos para outros, esses homens e mulheres construíram uma página na história do Brasil.

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Publicado em 15.05.2017

 

One comment to “163. Guerrilha do Araguaia – 1967-1974”
  1. esses terroristas foram todos para o inferno , de onde nunca deveriam ter saído

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