180. O Trágico Retorno de Vargas 1951 – 1954

Nossos últimos textos abordaram a Era Vargas e o governo posterior, de Eurico Gaspar Dutra. Como uma fênix, o gaúcho renasceu.

Eleições de 1950 e a Volta Estrondosa de Vargas

Conheçam Eduardo Gomes, o homem que inspirou o doce conhecido como brigadeiro, em uma reportagem da Revista Istoé. Imagem: Internet

Em 3 de outubro de 1950 ocorreram novas eleições no Brasil. Era a hora da verdade para Vargas, novamente no pleito, após 5 anos cumprindo mandato como senador.

Como o povo brasileiro julgou Getúlio? Pai dos pobres, o homem que montou a base para a industrialização do Brasil ou o ditador do Estado Novo que enviou uma judia grávida para a Alemanha nazista?

A UDN mais uma vez entrou no certame com o Brigadeiro Eduardo Gomes. Nem de perto foi páreo para Vargas, que obteve uma vitória avassaladora. O gaúcho emplacou 3.849.040 contra 2.342.384 do ex-militar. Uma surra de 48,73% frente a 29,66%. Fechando o pleito tivemos o mineiro Cristiano Machado, com 1.697.173 votos, o que representou 21,49% do total.

Um Governo Tenso

Vargas assumiu um Brasil bem diferente do que havia deixado em 1945. Um grande debate dominava a política brasileira, de um lado os defensores do nacionalismo, entre eles Vargas, de outro os adeptos da entrada de capital estrangeiro no Brasil.

As forças armadas, desde a 2º Guerra, tinham grande vínculo com os EUA, inclusive com membros da CIA injetando dinheiro em ações por aqui. Dutra, havia escancarado nosso país aos interesses yankees, que não aceitariam um retrocesso nas relações.

O nacionalismo de Getúlio atrapalhava os interesses norte-americanos em terras tupiniquins. Alguns políticos e militares o chamavam de comunista.

Obviamente Vargas nunca foi comunista, mas sua forte resistência a entrada estrangeira no mercado brasileiro abriu essa brecha, já que o comunismo tem como regra o distanciamento do capitalismo mundial. Para acirrar ainda mais os ânimos, Vargas liderou a campanha de criação da Petrobrás, chamada de “O petróleo é nosso”, saindo vitorioso. Isso desagradou os norte-americanos que queriam entrar com suas empresas petrolíferas por aqui. Esse episódio foi tema em nosso blog no texto 167.

A situação era complicada, há anos o salário mínimo não era reajustado, e a inflação diminuía o poder de compra do trabalhador. Vargas moveu o cobertor curto, nomeou João Goulart ministro do trabalho que logo deu 100% de aumento, dobrando o valor do vencimento básico. As elites e o empresariado ficaram possessos.

Getúlio Vargas (ao centro) e João Goulart (a direita do homem com chapéu). Jango, como era conhecido, depois chegou a presidência da República em um mandato mais que polêmico, tema em nosso blog. Imagem: Internet

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Desagradando ora um, ora outro, o segundo governo Vargas sentia a pressão. Os críticos, parte deles “bancados” pelos EUA, não davam sossego. Em 1954 um acontecimento relacionado ao seu maior crítico selou o destino do Brasil.

O Atentado da Rua Tonelero

Foto icônica de Carlos Lacerda com o pé ferido. Imagem: Internet

O maior inimigo de Vargas era Carlos Lacerda, membro da UDN e proprietário do jornal Tribuna da Imprensa. Diariamente, publicava uma série de denúncias contra o governo, a maioria sem nenhum embasamento real.

No dia 5 de agosto de 1954, quando chegava em casa, na rua Tonelero 180, bairro de Copacabana, sofreu um atentado, sendo alvejado no pé. O homem que fazia a sua segurança, Major Rubens Florentino Vaz, foi atingido mortalmente no peito. O filho de Lacerda de apenas 15 anos também estava presente mas não foi ferido. O autor dos disparados, que havia surgido das sombras, fugiu em um táxi. Um guarda chegou a cena do crime e também foi baleado, conseguindo anotar a placa do veículo.

Como o crime envolveu um membro da aeronáutica, as forças armadas pressionaram a polícia por um esclarecimento imediato. O taxista, “apertado” pelos investigadores, confessou que havia levado dois homens ao local do ocorrido. Um deles era Climério Euribes, integrante da guarda pessoal do presidente de Getúlio e amigo pessoal de Gregório Fortunato, o chefe de todo o estafe.  O outro passageiro era o  pistoleiro Alcino João do Nascimento, que delatou  Lutero Vargas, filho de Getúlio, como o arquiteto do plano colocado em prática por Gregório.

Gregório Fortunato, sempre próximo a Vargas (de Chapéu), foi o organizador do atentado. Ele, como chefe da segurança pessoal do presidente, comprou as suas dores. Imagem: Internet

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Veja toda especulação que este famoso episódio ainda gera nos dias atuais em uma reportagem do Jornal O Globo. 

Uma crise sem precedentes assolou o Governo Federal. Inconformados, os militares exigiam a renúncia de Vargas. Seus inimigos aumentaram o tom e no dia 23 de agosto ficou decidido que o presidente entraria com uma licença, até que o caso fosse encerrado. Desafetos do presidente, os norte-americanos se regozijavam.

Especulações afirmam que o tiro no pé de Lacerda foi uma fraude, dado por ele mesmo ou sequer existiu. O objetivo era dar mais voz ao teatral jornalista, agora vítima. Verdade ou não, o atentado matou um  militar inocente, o que por si  só torna o caso um escândalo.

Mesmo Vargas negando veementemente relação com o ocorrido, ter um presidente, ou seus comandados, envolvidos em um caso com esse é algo de extrema gravidade.

Suicídio

Clique para ampliar. Milhares de pessoas acompanham o cortejo fúnebre. Várias choraram a morte do presidente. Imagem: FGV/CPDOC

Getúlio provavelmente sabia que, fora do poder, poderia ser preso, e por um crime que não havia cometido. As 5 da manhã do dia 24 agosto de 1954, Benjamim Vargas, irmão do presidente, chegou ao palácio do Catete para dar a ele a informação de que os militares não abriam mão da renúncia. Nosso presidente estava em um beco sem saída.

Vargas foi enfático: “Só morto sairei do Catete!”

E assim foi feito, com um tiro no coração, se matou, dando fim a vida de um ícone da história brasileira.

O suicídio mudou completamente a opinião pública, ressabiada com o passado ditatorial de Vargas e realmente acreditando em sua culpa. As cartas lidas via rádio emocionaram os brasileiros que passaram a acreditar na inocência do presidente. Alguns cidadãos voltaram sua raiva contra Carlos Lacerda, que, de vítima se tornou o culpado pela morte de Getúlio.

O Brasil se comoveu com a notícia do suicídio. Esse ato extremo confirmou a inocência do presidente. Imagem: Internet

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Cartas

Durante anos uma carta datilografada foi divulgada como tendo sida escrita por Vargas antes de sua morte. Provavelmente, ela foi elaborada por assessores. O Memorial Getúlio Vargas chama esta primeira de Carta Testamento. A real carta manuscrita por ele, divulgada posteriormente, é chamada de Carta Despedida.

—->Leia as duas cartas em uma postagem especial no Blog do Clebinho (Hiperlink)<—-

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Publicado em 18.09.2017