219. O País de Simon Bolívar (Venezuela)

Um dos assuntos mais discutidos atualmente é a terrível situação vivida pelos venezuelanos. O problema é tão grande que transborda para os vizinhos, entre eles o Brasil e a Colômbia.

O transtorno é um dos mais complexos já trabalhados em nosso blog, sendo merecedor de um livro e não somente um texto. Tendo isso em mente, vamos buscar entender, pelo menos superficialmente, como a situação chegou a este ponto. Serão dois textos sobre o assunto, começando pela contextualização histórica do país.

Venezuela

O nome oficial é República Bolivariana da Venezuela.  Sua população atual orbita os 31 milhões de habitantes (44º do mundo), com a maior região metropolitana na capital Caracas (2 milhões). O território do país é de 916 445 km² (32º do mundo).

A Venezuela está ao norte do Brasil. Imagem: Internet.

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Está localizada no norte da América do Sul, tendo fronteiras com Colômbia, Brasil e Guiana, além do litoral no Mar do Caribe. A língua oficial é o espanhol.

Histórico

O país foi uma colônia da Espanha entre 1522 e 1811, quando se tornou uma das primeiras colônias a se desvencilhar dos europeus. A independência não foi pacífica, tendo sido liderada por Simon Bolívar, que mais tarde ficou conhecido como “El Libertador”.

O venezuelano Simón Bolívar, ao lado de José de San Martín,  foi uma das peças chave nas guerras de independência da América Espanhola.  Imagem: Internet. 

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Como precursora, a Venezuela influenciou todas as outras colônias da América do Sul, inclusive o Brasil, que se tornou independente pouco mais de uma década depois.

Antes o seu primeiro poço de extração de petróleo entrar em produção, fato ocorrido em 1914, o país era algo próximo ao estereótipo típico dos países da região: corrupto, agrário, latifundiário e de renda concentrada em uma elite proveniente do período colonial. Por isso chamavam, pejorativamente, países com estas características de República de Bananas¹.

Em 1920, o país já era o maior exportador mundial de petróleo. A partir do óleo negro, os venezuelanos experimentaram um grande crescimento econômico e modernização, já que o governo permitia a exploração  por empresários nacionais e internacionais.

Neste mesmo período de bonança, que durou da década de 1910 a 1960, o país foi governado por caudilhos, entre eles Juan Vicente Gómez (1908-35),  José Eleazar López Contreras (1935 -41) e Marcos Pérez Jiménez (1952-58).  Eram governos militares, com enorme repressão, ainda assim, o país conseguiu entrar no seleto grupo dos 5 maiores PIBs per capita do mundo.

O general Juan Vicente Gómez governou o país com mãos de ferro por 27 anos. Imagem: Internet.

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É evidente que o PIB per capita não retratava a realidade, já que a concentração de renda era enorme e os lucros do petróleo não chegavam a todos. Entretanto, foi um momento de melhorias sociais em geral, mesmo que mais para uns do que para outros.

A Venezuela era, até aquele momento, um país capitalista e com fortes investimentos estrangeiros.

Durante esse período autocrático a corrupção circulou livremente pelo governo. Em especial no governo Jiménez, onde obras gigantescas foram criadas para gerar propina para as empreiteiras. Prática que os brasileiros atualmente conhecem muito bem.

Golpe de 1958 e Democracia

Em 23 de janeiro de 1958 um grupo de ativistas de esquerda, somados a líderes das forças armadas, desgostosos dos caminhos traçados pelos ditadores, deram um golpe e terminaram com uma ditadura que durava praticamente desde 1908.

Um amplo acordo foi firmado entre os 3 grandes partidos políticos da época, o  Pacto de Punto Fijo, assegurando a estabilidade democrática do país pós ditadura.

No mesmo ano as eleições foram vencidas por Rómulo Betancourt, considerado o homem que inseriu, mesmo que moderadamente, os pensamentos esquerdistas no país. Investiu em educação e saúde, tinha uma ideia intervencionista na economia e promoveu uma reforma agrária, muito discutida no país naquele momento. Acusavam o presidente de incentivar invasões de terras e ocupações.

Mais uma semelhança com o Brasil, que mais ou menos neste período (1962-64), com João Goulart, também tentava uma melhor distribuição agrária.

Rômulo Betancourt governou o país em um momento entre os caudilhos, 1945-1948 e depois entre 1959 e 1964 eleito democraticamente. Tinha como objetivo privatizar a empresa nacional de petróleo, fato concretizado mais tarde pelos seus sucessores.  Imagem: Internet.

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Para não delongar demasiadamente o assunto, outros presidentes vieram e a situação do país veio se deteriorando. Mesmo democrática, a Venezuela continuava concentrando renda, sendo governada por oligarquias e completamente dependente do petróleo vendido aos EUA.

A pobreza, que na década de 1950 era de 15%, em 1980 já era de 50%.

O que já  estava complicado piorou quando chegou a presidência Carlos Perez, com seu neoliberalismo e a austeridade imposta pelo Consenso de Washington². O custo social foi enorme e as pessoas passaram a saquear estabelecimentos em busca de comida.

A partir do relato deste texto e das nossas pesquisas para construí-lo, está bem claro que os problemas da Venezuela não foram criados no século XXI, vinham desde a descolonização.

Em um país tão desigual, violento e complexo, não seria de se estranhar a chegada ao poder de uma figura exótica como Hugo Chavez, tenente-coronel, polêmico, populista e autocrático, tema de nosso próximo texto.

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1 – República de Bananas:  O termo foi criado por O. Henry, pseudônimo de William Sydney Porter, um humorista e cronista norte-americano. É usado para designar, pejorativamente, países tropicais, corruptos, politicamente instáveis e submissos a um país desenvolvido. Além disso, são nações com economias baseadas em um único produto primário. Como exemplo ele usou  a banana, produto típico dos países caribenhos.

2 – Consenso de Washington: Foram ideias compiladas de vários economistas situados nos EUA, que se tornaram a política oficial do FMI para empresar dinheiro a um país. Foi muito criticado pois previa uma restrição enorme de investimentos do governo em todas as áreas, inclusive as sociais.

Publicado em 09.10.2018