231. Sabinada e Balaiada

O texto de hoje finaliza, enfim, o mais  tumultuado período vivido no Brasil, a Regência. Após inúmeras revoltas, algumas ainda em andamento, eclodem mais problemas no Brasil.

Sabinada (Nov/1837- Mar/1838)

Assim como no sul do Brasil, a elite baiana estava insatisfeita com os rumos da regência imperial. Eram favoráveis ao federalismo republicano, e desejavam maior autonomia do governo local.

Como mostrado em nosso texto sobre a revolta do Malês, a província baiana vivia um momento tenso naquela época. Decadente, via as plantações de cana, principal produto local, se espalharem por outros locais, aumentando a oferta e diminuindo o valor do produto.

Seca, diminuição da oferta de alimentos, inflação e uma enorme quantidade de moedas falsas complicaram ainda mais a situação social da região.

Se a Revolta dos Malês foi protagonizada pelos escravos, a Sabinada  foi liderada pela classe média. Desgostosos com a situação econômica, defendiam uma separação temporária da Bahia em relação ao Brasil, até que Dom Pedro II atingisse a maioridade.

O estopim foi a obrigatoriedade de alistamento militar para lutar na Guerra dos Farrapos, que havia estourado no sul do país. Se mal queriam pertencer ao Brasil imperial, imagina então lutar em uma guerra por ele, contra insurgentes com ideias muito semelhantes às dos baianos.

Francisco Sabino era médico, jornalista e se tornou líder da milícia que tomou Salvador, dando nome ao conflito. Imagem: Internet.

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O líder do movimento foi o jornalista e médico Francisco Sabino, daí o nome Sabinada. Na noite compreendida entre os dias 6 e 7 de novembro de 1837, os rebeldes invadiram o Forte de São Pedro, local onde ficava a maior parte das guarnições imperiais. No dia seguinte invadiram a Câmara Municipal da capital, proclamando a República Bahiense.

Essa foi a Bandeira da República Bahiense. Imagem: Internet.

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Os grandes fazendeiros não aderiram ao movimento, com medo de uma possível libertação de escravos, fundamentais para a produção em suas fazendas. Por sua vez, os escravos também não se animaram, já que a abolição nunca esteve claro nos ideais do movimento. No máximo, circulou a ideia de uma libertação de escravos nascidos no Brasil, cerca de 1/3 do total, o que não atendia a demanda geral.

Comprimida na classe média, a insurgência foi dominada pelo governo regencial, já naquele momento sobre o comando de Araújo de Lima. O tempo de duração do conflito, cerca de 4 meses, foi exatamente o necessário para que as tropas terrestres e marítimas do império organizassem o cerco a Salvador. Após 3 dias e 1.800 mortes estava encerrada mais essa revolta.

Os líderes foram julgados e condenados e prisão perpétua. Como estamos acostumados no Brasil, algum tempo depois as penas foram reduzidas e o próprio Sabino conseguiu se refugiar no Mato Grosso.

Alguns membros do levante continuaram lutando contra o governo regencial, já que foram para o sul lutar na Revolução Farroupilha.

Balaiada (Dez/38 a  Início/41)

Chegamos, enfim, ao último capítulo das revoltas regenciais.

Essa insurreição ocorreu no Maranhão, devido a gigantesca divisão social que existia na província naquele momento. Como sabemos, 181 anos depois, o estado parece não ter melhorado muita coisa nesse quesito.

Naquele momento da história a elite local se dividia entre os Bem-te-vis, políticos liberais, e Cabanos, conservadores. O nome do último grupo faz referência a revolta ocorrida no Grão-Pará, já estuda em nosso blog.

O nome Bem-Te-Vi deriva de um jornal que esse grupo político tinha, sempre criticando o governo cabano, como podemos perceber nessa edição de julho de 1838. Imagem: Internet.

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A situação local era complexa, os mais abastados disputavam o poder da região, enquanto a pobreza aumentava, impulsionada pela concorrência do algodão norte-americano no comércio internacional.

O clima, que já era tenso, explodiu quando o governo instituiu a Lei dos Prefeitos, que permita ao governador escolher os mandatários de cada cidade. Revoltas eclodiram pela província de forma quase orgânica, sem um comando central.

Algumas lideranças foram despontando durante o conflito. Em Vila da Manga, no dia 13 de dezembro de 1838, o peão Raimundo Gomes, junto a alguns companheiros, invadiram a cadeia pública, para libertar seu irmão. Com a tomada de armas e munições dominaram toda a localidade.

Ilustração de artesãos da época, produzindo balaios de palha. Desse grupo saiu o nome do movimento. Imagem: Internet.

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Outra liderança foi Manoel dos Anjos, vulgarmente conhecido como Manoel Balaio, já que era fabricante artesanal de cestos de palha. Daí surge o nome balaiada. Após ter suas filhas estupradas por um soldado, saiu com um grupo armado invadindo vilas e latifúndios. Se juntaram aos revoltosos mais de 3 mil quilombolas.

A porção nordeste da província foi dominada, e um junta governamental foi criada pelos insurgentes. A princípio, os Bem-Te-vi apoiaram a revolta, uma aliança incomum entre elite e populares. Mesmo inusitada, ela fazia sentido já que o governo local estava nas mãos dos Cabanos.

Clique para ampliar. Ilustração mostrando vaqueiros, escravos, quilombolas, entre tantos outros populares, lutando contra as forças do império. imagem: Internet.

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Após ocuparem a Vila de Caxias, os guerrilheiros chegaram a Vila de Icatu, local posicionado na Baia de São José, de frente a capital São Luís.

Fim dos Conflitos

Em fevereiro de 1840, o experiente coronel  Luís Alves de Lima e Silva  foi nomeado presidente e comandante militar da província conflituosa, além do Ceará e Piaui. Era a cartada final do regente Araújo de Lima.

O militar resolveu alguns problemas internos das forças imperiais, quitando salários atrasados e dando melhores condições de combate.

Ao longo do processo os Bem-te-vi retiraram o apoio aos balaios, preocupados com a complexa situação em que a província se meteu.

Com o tempo, as tropas imperiais foram cercando e matando os oponentes. As deserções se tornaram comuns entre os balaios, que nunca foram muito bem organizados. Manoel, líder do movimento, foi baleado na perna, sem querer, por um companheiro, morrendo depois de gangrena.

Luis Alves em 1841. Imagem: Internet.

Em 1840, Luís Alves concedeu uma anistia a quem se rendesse, fato que gerou a desistência de cerca de 2.500 rebeldes, praticamente sepultando o movimento. Alguns focos ainda tentaram resistir mais alguns meses, terminando por completo os combates no início de 1841, já com o jovem Dom Pedro II no poder.

Por esta campanha, o coronel recebeu o título de Barão de Caxias. Ele mesmo pôde escolher de qual localidade seria barão, e escolheu a segunda maior cidade do Maranhão, antes dominada pelos rebeldes.

Após essa impressionante vitória, foi designado ao sul do Brasil, para resolver outra querela, a Guerra dos Farrapos, como mostrado em nosso texto anterior. Mais a frente ele se tornou o Duque de Caxias, participando ativamente da Guerra do Paraguai, tema abordado no texto 76.

Por tantos feitos, Caxias é o patrono do Exército Brasileiro.

Após 4 textos, podemos perceber o quão complexa foi a Regência, um verdadeiro pesadelo para o Brasil. Milhares de mortes e uma quase fragmentação de nosso país.

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Publicado em 10.04.2019