64. Guerra nos Balcãs – Bósnia

Em nosso último texto, abordamos a formação da Iugoslávia e toda miscelânea de culturas presente lá dentro. O problema é que o homem que soldou esta nação, entre 1945 e 1980, faleceu.

 A morte de Tito e o fim do Socialismo

Em maio de 1980, Josip Broz morreu, após governar a Iugoslávia por 35 anos com mãos de ferro, sufocando toda e qualquer tentativa de separação. Seu funeral reuniu 4 reis, 31 presidentes, 6 príncipes, 22 primeiros-ministros, 46 ministros estrangeiros e mais uma série de outras autoridades, que vieram de 128 países.

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Esta foi a Iugoslávia deixada por Tito, um caldeirão cultural, religioso e étnico. Imagem retirada da Internet.

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Sem o grande unificador, a ideia foi fazer um sistema rotativo de comando, onde, a cada dois anos, um líder de uma das 6 maiores etnias ficaria no poder. Tudo isso para impedir eleições diretas, que obviamente levariam um sérvio ao poder, pois eram a maioria.

O fim do bloco socialista em 1989, representado pela queda do muro de Berlim, foi o estopim da crise. A desintegração parecia óbvia e os ódios étnicos e religiosos do passado começaram a voltar a tona.

Eslovênia e Croácia de saída

Era um desejo antigo dos moradores dessas repúblicas voltar ao círculo de influencia cristão/capitalista/ocidental e o fim do socialismo abriu as portas para tal. Aproveitando o vácuo de poder no leste europeu, em 1991, Croácia e Eslovênia, repúblicas mais prósperas e de maioria católica, se declararam independentes.

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Slobodan Milosevic, presidente da Sérvia e criminoso de guerra. Imagem: Internet

O problema é que, exatamente neste momento, a presidência rotativa estava com a Sérvia, na figura de Slobodan Milosevic, que nutria o desejo histórico de criar a Grande Sérvia, dominando totalmente as outras repúblicas.

Sair da Iugoslávia naquele momento não seria nada fácil. Como viveram em um mesmo país  por muitas décadas, sérvios migraram para outras repúblicas e, onde eles estivessem, o problema era certo.

A Eslovênia era, na época, um país com 91% de sua população de origem étnica eslovena. Os sérvios representavam apenas 2% da população, portanto, sua independência foi a que menos gerou problemas, uma guerra que durou apenas 10 dias.

Na Croácia, a história foi mais complicada. Neste país, existia uma minoria de origem estrangeira, porém numerosa. Cerca de 12% dos Croatas eram sérvios ou descendentes, principalmente na região da Krajina. Manipulados  por Milosevic, essa minoria iniciou um processo de autonomia de sua região em relação aos croatas. Obviamente, sairiam do país em um determinado momento seriam absorvidos pela Sérvia em um futuro próximo.

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Em azul, regiões da Croácia com maioria Sérvia. A Guerra durou 4 anos. Imagem: Wikipedia.

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O ódio étnico foi aumentando, e os vários incidentes alimentaram a máquina de propaganda de ambos os lados, causando cada vez mais ódio. A prática de Genocídio¹ foi comum,  totalizando mais de 20 mil mortes.

Paralelamente a este conflito, algo muito pior ocorria na região ao lado…

Bósnia-Herzegovina

Em 1992, seguindo o exemplo de seus vizinhos,  a Bósnia também se declarou independente, após um referendo interno indicar o interesse da maioria pela criação de uma nova nação. O problema é que naquela região a divisão étnica era ainda mais complexa:

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A Bósnia é uma Iugoslávia em miniatura. 44% de bósnios muçulmanos (verde), 31% de sérvios (vermelho) e 17% de croatas (amarelo). Imagem: Balkan Inside

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Infelizmente, a Bósnia apresentava todos os ingredientes para um conflito, e foi exatamente o que ocorreu.

Mais uma vez, a Sérvia atuou em “defesa” dos seus, e a guerra durou de 1992 a 1995, apresentando um número impressionante de crimes de guerra. Cerca de 90% das atrocidades foram  cometidas pelos sérvios, que lutavam contra uma coalizão de croatas e bósnios.

A prática de limpeza étnica² foi comum pelo lado sérvio, não importava se eram homens, mulheres, crianças ou idosos. Como exemplo, entre os bósnios, morreram 63 mil pessoas, das quais, 32 mil civis. Entre os croatas o número de mortes foi cerca de 6 mil contra 24 mil dos sérvios.

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Parlamento bósnio queimando em Sarajevo. Imagem: Wikipedia.

Os números não são totalmente exatos, mas existem organizações que indicam mais de 100 mil mortes no conflito na Bósnia. Sarajevo, a capital, onde viviam pessoas de todas as etnias envolvidas, foi cercada pelas tropas sérvias por 46 meses, causando a morte de 10 mil pessoas.

Massacre de Srebrenica

O ponto máximo da violência ocorreu em 1995, próximo ao fim do conflito. Um exército composto por Sérvios que viviam na bósnia,  sob o comando do General Ratko Mladić, e com a participação de uma unidade paramilitar sérvia conhecida como “Escorpiões”, assassinou 8.373 bósnios muçulmanos na região de Srebrenica, variando em idade de adolescentes a idosos.

As tropas da missão de paz da ONU estavam no local, representados por soldados holandeses. Eles chegaram a pedir reforços, que foram  negados. Nada fizeram para impedir a chacina. Esse incidente foi o primeiro na Europa  a ser considerado um genocídio após o Holocausto.

Em 2010, vários corpos foram encontrados em uma vala comum, 775 foram  identificados por testes de DNA e enterrados, 15 anos depois do massacre. Confira em reportagem do site IG.

Bosnian people pray near coffins of Srebrenica victims, during amass funeral in Potocari 120 km northeast of Sarajevo, Bosnia, on Sunday, July 11, 2010. Weeping among endless rows of coffins, tens of thousands gathered Sunday in the eastern Bosnian town of Srebrenica to bury hundreds of massacre victims on the 15th anniversary of the worst crime in Europe since the Nazi era. (AP Photo/Amel Emric)

Velório coletivo em Srebrenica 2010.  (AP Photo/Amel Emric)

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Acordo de Dayton

Após 3 semanas de bombardeios da Otan sobre as forças Sérvias e com sanções econômicas desde 1991, Slobodan Milosevic resolveu sentar a mesa de negociações.  Pelo acordo, liderado pelos EUA,  ficou definido que a Bósnia ficaria composta por duas entidades – a República Sérvia da Bósnia (República Srpska) e a Federação da Bósnia-Herzegovina (ou Federação muçulmano-croata). A presidência do país passou a ser composta por 3 membros, um de cada etnia (Servia, Croata e Muçulmana).

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Hoje, a Bósnia é um país dividido em dois: Federação da Bósnia e Herzegovina (federação croato-bosníaca) e a República Sérvia da Bósnia (Srpska, Não é o país Sérvia).

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Hoje, a própria existência da Bósnia como país é colocada em discussão, já que, invariavelmente, os representantes não se entendem no poder. A própria criação de duas repúblicas em uma, estimula a rivalidade entre todos. O futuro é incerto.

Macedônia

Outro país que se declarou independente em 1992 foi a Macedônia. Como ela era formada por 54% de macedônios, 21% de albaneses, 5% de origem turca e praticamente nenhum sérvio, não ocorreram conflitos.

Como ficou em 1995

Entre 1989 e 1995 o país se dividiu em 5 nações. Ficando assim:

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Eslovênia, Croácia, Sérvia, Macedônia e Bósnia, essa era a situação em 1995. Imagem retirada da Internet.

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Próximo texto:

Quando tudo parecia resolvido, mais problemas aparecem. Agora é a vez do Kosovo, tema de nosso próximo texto. Imperdível!

Espero ter aumentado o conhecimento de todos os leitores. Curtam nossa página no Facebook e compartilhem nosso texto! Abraço do Clebinho!

1 – Genocídio: Extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso.

2 – Limpeza étnica: É a remoção ou eliminação de determinados grupos étnicos numa região.

Publicado em 20.08.2015