75. Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado da história da América do Sul. Única vez que o território brasileiro foi invadido (desde a Independência) e marcou a destruição completa de um país. Nosso blog irá mergulhar neste sangrento conflito em três textos.

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Paraguai é um pequeno país sem litoral, localizado no centro da América do Sul. Na época, possuía uma população de 500 mil habitantes. Imagem retirada da internet.

Causas

Ao longo do  século XIX, inúmeros conflitos irromperam na região da Bacia do Rio da Prata¹. O Paraguai se manteve ao largo dessas disputas, em uma relativa política de distanciamento. No ano de 1864, mais um problema envolveu a região, e dessa vez seria diferente.

Alegando o fato de brasileiros estarem sendo atacados em território uruguaio, Dom Pedro II, imperador do Brasil, enviou tropas para invadir e depor o presidente do país, o ditador uruguaio Aguirre, líder do Partido Blanco e aliado de Solano López, presidente paraguaio.

Francisco Solano López, ditador do Paraguai.Durante a primeira fase da guerra (1864-1865) a iniciativa esteve com os paraguaios

Foto de Francisco Solano López, ditador do Paraguai. Durante a primeira fase da guerra (1864-1865) a iniciativa esteve com os paraguaios

Foi uma intromissão explícita do Brasil em seu pequeno vizinho. Como retaliação, em novembro de 1864, um navio brasileiro de nome Marquês de Olinda foi retido em um porto  paraguaio. Não era um navio comum, a bordo se encontrava o coronel Frederico Carneiro de Campos, recém nomeado presidente² da então província³ do Mato Grosso.

Indignado pela intromissão brasileira no vizinho Uruguai, Solano Lopez enviou uma carta a Dom Pedro II,  que não foi sequer respondida.

Obviamente, a relação entre os dois países foi rompida, e em dezembro daquele ano, em uma atitude inesperada, Solano Lopez enviou tropas para invadir o território brasileiro, especificamente as cidades de Corumbá, Miranda, Coxim e Dourados, atualmente no Mato Grosso do Sul. As tropas paraguaias barbarizaram a população local e muita gente foi assassinada.

Alguns livros didáticos afirmam que a causa da guerra fora o fato do Paraguai estar, naquela época, em um momento econômico magnífico, se tornando uma potência regional e que isso contrariava os interesses ingleses. Porém, sabe-se hoje que o país nem de perto se assemelhava a uma força a ser invejada. Apesar de alguns avanços como reforma agrária e um aumento substancial em seu exército, que evoluiu de 10  para 100 mil homens (28 mil na reserva), nosso vizinho continuava um país camponês, atrasado e subdesenvolvido.

As áreas de laranja mais escuro foram ocupadas pelo Paraguai no início do conflito. Imagem: Internet

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O Paraguai parecia possuir o exército mais poderoso da região, com armas prussianas e francesas. O detalhe é que, sem acesso ao mar, essa vantagem era ilusória, pois o país não teria como repor seus armamentos no caso de uma guerra longa.

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Dom Pedro II no Rio Grande do Sul, libertando Uruguaiana. Imagem retirada da internet.

Brasil

O Brasil, país de analfabetos, escravos e muito pouca gente abastada, só possuía em seu exército cerca de 12 mil homens treinados, muito pouco frente ao inimigo. Mas com uma população de 9 milhões e um território imenso, possuía muitos recursos a serem empenhados. Sabendo disso, Dom Pedro II criou o  Decreto nº 3.371, criando os Corpos de Voluntários da Pátria. Foi o início da movimentação brasileira. A princípio, a ideia era que patriotas se voluntariassem para lutar, formando batalhões de combates. Com o prolongamento da guerra, se iniciaram os recrutamentos forçados. Muitos eram escravos enviados por fazendeiros e negros alforriados pelo governo por  estarem em combate.

Tríplice Aliança

Em maio de 1865 Brasil, Argentina e Uruguai assinaram o Tratado da Tríplice Aliança, declarando guerra ao Paraguai.

Solano Lopez estava confiante, não se abateu e em junho de 1865, disfere um novo  golpe, invadindo as cidades de São Borja, Itaqui e Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Não satisfeito, também emite ordens para invadir a província de Corrientes, na Argentina.

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As setas pretas indicam a invasão paraguaia a Província de Corrientes (Arg.) e ao rio Grande do Sul. A Ideia era chegar ao oceano. As setas vermelhas mostram o posterior contra-ataque. Imagem retirada da internet.

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Como o Brasil praticamente não tinha tropas nos locais invadidos, muito distantes da capital Rio de Janeiro, o sucesso dos paraguaios foi total. A ideia nítida de Lopez era aumentar o seu território em direção ao litoral, tentando assim, em algum momento, adquirir uma saída para o mar. Sem essa saída, os paraguaios continuariam dependendo dos vizinhos para promover seu comércio exterior.

Polêmico início

Até os dias de hoje existem grandes controvérsias sobre os reais motivos que impulsionaram os países sul-americanos a se conflagrarem, como pode ser observado em uma reportagem no site G1. Uma das dúvidas é se o Paraguai invadiu o Brasil por ter um pacto de defesa com o Uruguai, ou se Solano Lopez estava esperando algum pretexto para tentar uma saída para o mar, criando o seu “Grande Paraguai”. Existe ainda a possibilidade do ditador paraguaio, pressionado em seu país, ter declarado guerra ao gigantesco vizinho como forma de demonstrar poder e agregar seu povo em torno de um grande ideal.

Enfim, mais uma daquelas discussões que nunca terá uma conclusão definitiva. A verdade absoluta morreu com o próprio Solano.

Batalha naval do Riachuelo

O país de Solano Lopez já havia conquistado algumas vitórias, se vencesse esta batalha naval, conquistaria a hegemonia sobre a navegação na Bacia do Prata, complicando a situação para seus rivais.

Com a guerra conflagrada, este confronto foi o 1º grande embate entre as forças brasileiras e paraguaias. A batalha ocorreu no dia 11 de junho de 1865, nas águas do rio Paraná, na confluência com o arroio Riachuelo, na província argentina de Corrientes.

O Brasil entrou em combate com 9 navios (59 canhões), contra 7 (36  canhões) dos paraguaios. Cerca de 2.500 militares brasileiros entraram em combate neste dia, frente a 1.500 paraguaios.

A estratégia dos paraguaios era pegar as forças brasileiras se aproveitando de um forte nevoeiro que cobria a região. O detalhe é que um dos navios paraguaios apresentou problemas e atrasou toda a frota. Quando a batalha se iniciou, ás 9 da manhã, não existia mais neblina.

Na primeira etapa do embate, os paraguaios afundaram 3 embarcações do Brasil. Mas depois a vantagem virou.  Nosso comandante na batalha, o  Almirante Barroso, tomou uma decisão espetacular, em desvantagem, deu ordens para os navios brasileiros abalroarem os paraguaios. Como nossos navios eram mais fortes, causaram danos irreparáveis aos inimigos, que afundaram.

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Cópia do original de Vitor Meirelles: a Batalha Naval do Riachuelo. Dimensão: 2,00m x 1,15m. Autor: Oscar Pereira da Silva (1867-1939).

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A batalha aniquilou a marinha paraguaia e abriu espaço para a invasão do território inimigo pelas forças da Tríplice Aliança. É o momento máximo da marinha brasileira na história, fato vangloriado até os dias de hoje.

Veja detalhadamente como foi a batalha no site do Ministério da Defesa.

Veja o o próximo texto 

As tropas brasileiras entram no território paraguaio. Porém, muitos embates ainda estão por vir, entre eles a maior de todos os tempos na América do Sul, a Batalha de Tuiuti. Imperdível!

Espero ter aumentado seu conhecimento.  Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!

Publicado em 07.10.2015

1 – Bacia do Prata – O Rio da Prata, que banha Buenos Aires,  é formado pelas bacias de 3 grandes rios que se encontram: Paraguai, Paraná e Uruguai. Cobre boa parte do Sul da América do Sul, por isso essa região é conhecida como a região da Bacia do Prata. 

2 – Naquela época não existiam governadores e sim presidentes das províncias.

3 – Também não se denominavam Estados, mas sim Províncias. O Mato Grosso, na época do conflito, reunia o que são hoje os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.