183. Catalunha Não é Espanha

Nos últimos dias um forte grito de independência ecoou mais uma vez na Espanha. Desta feita, a origem do imbróglio foi a Catalunha, comunidade mais rebelde dos últimos anos.

O desejo catalão vem sendo duramente reprimido pelo governo espanhol, gerando uma série de questionamentos. Alguns deles inspiram grande curiosidade e serão discutidos em nosso texto.

Geografia

A Catalunha é uma província autônoma da Espanha. Possui 32,114  km² e  uma população de 7.522.596 (2016).  O gentílico é o catalão, assim como a língua. Ao norte faz fronteira com a França e é subdividida em Girona, Lérida, Tarragona e a capital Barcelona, que possui 1.608.746 habitantes (2016).

De cor mais escura a Catalunha, no nordeste da Espanha. Imagem: Internet

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Desde 2006 é definida como uma nação em seu estatuto de autonomia, após um referendo ocorrido no mesmo ano. É a terra de artistas famosos como Antoni Gaudi, Salvador Dali, Joan Miró e os cantores de ópera Josep Carreras e Montserrat Caballé.

Templo da Sagrada Família, em Barcelona, foi desenhado pelo arquiteto Antoni Gaudí e é um expoente da arquitetura modernista catalã. Imagem: Internet

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Histórico

Diferente do Brasil, que formou uma grande unidade inicial para depois se dividir em pedaços, que posteriormente se transformaram em estados, os europeus foram reinos formados pela junção de várias nações. Sendo assim, em vários países, como Espanha e Bélgica, a noção de comunidade local se sobrepõe a questão nacional.

Tendo feito parte de outros reinos, como o de Aragão, a partir de 1714 a Catalunha passou a integrar o que chamamos hoje de Espanha. Ainda assim, os catalães sempre mantiveram a língua e uma matriz cultural bem diferente do resto do país. A Língua, o catalão, é bem diferente do espanhol, apesar de ambas derivarem do latim.

Seguindo o modelo de industrialização britânico, foi a primeira região da Espanha a se industrializar, como podemos observar atualmente, com a Catalunha sendo a região de maior produção industrial do país.

No início da década de 1930 a região conquistou uma certa autonomia em relação a Madri, mas o sonho durou muito pouco. Entre 1936 e 1939 a Espanha ardeu em uma guerra civil, vencida pelo ditador Francisco Franco, que sufocou todo e qualquer movimento separatista ou de autonomia.

Outros espanhóis, os bascos, também foram perseguidos pela ditadura franquista. O efeito colateral foi o surgimento do grupo terrorista ETA, tema de nosso blog no texto 85.

A repressão aos movimentos separatistas diminuiu com a morte de Franco e o fim do regime, em 1973 e a nova constituição de 1978. Entretanto, as marcas de quase 40 anos de perseguição ficaram no povo catalão.

A própria rivalidade entre Real Madrid e Barcelona, maiores clubes do país, se deve boa parte pelo fato de cada clube representar um lado. Os madrilenhos são a figura do governo central, enquanto os catalães representam os rebeldes em busca da democracia e liberdade. É uma rivalidade que transcende o mundo do futebol.

A frase “Mais que um clube”, sempre presente nos jogos do Barcelona demonstra que o time representa algo maior que o futebol. Imagem: Internet

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O blog Cinema na História faz um apanhado muito interessante sobre como o general Franco usou o Real Madrid como propaganda de seu regime, confiram.

A Força Catalã 

A região representa somente 6,3% da área espanhola, mas produz 20% do PIB e recebe 22,5% do turismo do país. Barcelona é uma das cidades mais visitadas da Europa. A população representa 16% da Espanha e a indústria catalã é responsável por 19% da produção nacional.

O temor de Madri não é só de perder a Catalunha, o que já seria trágico. O medo é que a independência catalã reascenda as pretensões bascas, além de também existirem movimentos separatistas na Galícia e Andaluzia. Seria o fim do que chamamos de Espanha.

Regiões da Espanha com algum movimento separatista. A Espanha ficaria quase sem litoral, e bem menor. Imagem: Internet

Atual contexto

Apesar de toda cultura, língua e sentimento de nacionalismo, a atual crise está completamente ligada a economia.

Em 2008, parte da Europa, em especial Espanha e Grécia, entraram em uma grave crise financeira. Existe um ditado que diz “Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”. E é algo parecido a isso o que ocorre entre os espanhóis. Com todas as comunidades em dificuldade, as diferenças entre elas reapareceram.

Os catalães, motores da economia nacional, afirmam que sustentam regiões mais podres. Em época de fartura já seria um problema, em meio a uma crise o fato se tornou uma grande motivação para a separação. E os catalães não estão equivocados, realmente a ideia de um país passa exatamente por essa premissa, regiões em condições melhores realmente carregam os locais mais modestos. É o preço que se paga por um país cada dia mais forte, com as potências melhorando unidades mais atrasadas.

No Brasil, podemos ver algo relativamente parecido, porém em um grau bem menor, com movimentos querendo a separação da região Sul (com os melhores IDHs) do resto do país. São Paulo, motor de nosso PIB, também tem movimentos nesse sentido.

O desemprego na Catalunha é altíssimo, 13%, ainda assim, menor que do resto da Espanha, com 18%. Com tanta gente sem ocupação, ideias de separação e uma suposta melhoria de vida vingam com facilidade. Foi criado até um slogan “A Espanha nos Rouba”.

Em todo jogo contra o Real Madrid existem faixas estampando a frase: Catalunha não é Espanha. Imagem: Internet

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Não podemos esquecer também que a Catalunha é uma comunidade altamente endividada, e nem uma separação resolveria este problema. Esse fato parece não abater os ideais de independência. Separada primeiro e resolve essa questão depois.

Movimento Cada Vez Mais Forte

Em 2012 um movimento de milhares de pessoas invadiu as ruas de Barcelona, com o slogan “Catalunha, novo Estado da Europa“.

Faixa “Catalunha novo Estado europeu”. Imagem: Internet

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Em 2013 a ideia para chamar a atenção foi fazer uma gigantesca corrente humana, percorrendo 400 km da costa catalã.

Gigantesca corrente humana feita na Catalunha. Imagem: Internet

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Em 2014 o presidente da  Generalidadesistema que se organiza politicamente o autogoverno da Catalunha, convocou um referendo para saber a opinião da população local. Proibido pelas cortes constitucionais ocorreu de forma não oficial e teve vitória do “Sim”, a favor da independência, com 80,91% dos votos.

O protesto levou uma multidão as ruas de Barcelona. Saiba mais no site alemão DW.

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Em 2015 os separatistas venceram as eleições regionais e outra manifestação levou mais de um milhão de pessoas as ruas de Barcelona, mostrando a força do movimento.

2017

Esse ano chegamos ao auge do problema. No dia 1 de outubro, contra a vontade do governo central em Madrid e a margem da lei constitucional, foi feito um referendo na Catalunha.

Cerca de 2,2 milhões de catalães votaram, sendo que 90% escolheu mais uma vez o “sim”, ou seja, a emancipação. Os votantes representam 42% do eleitorado. Esses números são controversos, já que o sistema de conferência permitia que uma pessoa votasse várias vezes em locais diferentes. Ainda assim, mostram um predileção gigantesca pelo desmembramento.

O governo espanhol tentou de todas as formas evitar a consulta, apreendendo mais de 10 milhões de cédulas eleitorais. A polícia agiu com tremenda truculência, o que acirrou ainda mais os ânimos dos dois lados, gerando preocupação em toda a Europa.

As imagens da truculência da polícia espanhola correram o mundo. Imagem: Internet

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Agora inimigos mortais, os chefes de governo  da Catalunha,  Carles Puigdemont, e o primeiro ministro Mariano Rajov, trocaram acusações.

O líder espanhol afirma que o referendo é um devaneio, já o líder catalão ameaça declarar a independência de forma unilateral. A União Europeia não se pronunciou de forma clara, inclusive existe a possibilidade da Catalunha, caso independente, tenha que sair do bloco.

A situação está tão crítica, que o 5º maior banco da Espanha transferiu sua sede da Catalunha, com medo de uma declaração de independência. Saiba mais no site G1-Globo.

Vejam também as consequências da independência catalã no esporte, também no site G1-Globo. 

Os dois lados estão irredutíveis, o que impede qualquer negociação amigável. Nosso blog está atento aos próximos capítulos dessa disputa.

Espero ter aumentado seu conhecimento. Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!

Publicado em 09.10.2017

 

2 comments to “183. Catalunha Não é Espanha”
  1. Poxa, muito bom o conteúdo do Blog como um todo. Você saiu do lugar comum!
    Conteúdo original, autoral e com excelente atualização. Aposto que tem sido muito útil para muita gente.
    Do seu colega de graduação, Leonardo Luiz Silveira da Silva.

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