188. Gasoduto Bolívia-Brasil

Pelo quarto texto seguido abordamos a logística dos transportes. Vamos nos aprofundar um pouco mais nos dutos que levam energia para o mundo todo.

O transporte dutoviário vem se expandindo rapidamente. É seguro, barato e transporta a carga com rapidez. O principal ponto negativo é a baixa flexibilidade, tanto de cargas quanto de rotas. Podemos subdividi-lo em gasodutos, oleodutos, aquadutos e minerodutos.

Mesmo podendo carregar várias cargas como petróleo, gás natural, etanol, diesel, nafta, entre outros, é um transporte basicamente usado pelas indústrias de energia e mineração.

Existem também carbodutos, que levam carvão, além de uma infinidade de outros dutos que levam produtos como bebidas alcoólicas, mas são específicos e somente encontrados dentro de empresas ou cercanias, não sendo utilizados para transportes a longas distâncias.

Gasoduto/Oleoduto aparente. Imagem: Internet.

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Em termos de construção, podem ser subterrâneos, o que diminui o impacto sobre a região, ou aparentes, mais baratos. Também podem estar suspensos, quando o terreno é muito irregular ou até mesmo submarinos. Os últimos, podem ser tremendamente danosos ao meio ambiente em caso de acidentes. Vazamentos em gasodutos/oleodutos dentro do mar provocam enormes catástrofes.

Gasoduto/Oleoduto submarino. Imagem: Internet.

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Os primeiro oleodutos surgiram nos EUA, na segunda metade do século XIX, impulsionados pela necessidade de se movimentar petróleo, principalmente pela Standart Oil,  empresa de  John D. Rockefeller, cansado de depender do transporte ferroviário, mais burocrático.

Dentro dessa perspectiva, escolhemos como tema central de nosso texto de hoje uma grande obra  protagonizada pelos governos do Brasil e Bolívia, para abastecer nosso país com o gás natural do vizinho.

Gasoduto Bolívia-Brasil

Também chamado de Gasbol, é uma incrível obra da engenharia, contando com 3.150 Km, ligando a boliviana Santa Cruz de La Sierra a gaúcha Canoas, no subúrbio de Porto Alegre. Com um tamanho tão grande, teve suas obras iniciadas em 1997, entrando em operação em 1999 de forma parcial. Somente em  2010 teve todo o seu traçado concluído. Atravessa cerca de  5.000 propriedades em 136 municípios.

Construção do Gasoduto Bolívia-Brasil. Ao lado dos tubos esta escavada a linha onde eles foram colocados. Imagem: Internet.

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O custo total da obra foi de US$ 2 bilhões, sendo US$ 1,6 bilhão do Brasil e US$ 400 milhões da Bolívia.  Os tubos ficam enterrados a uma profundidade média de 1 metro. Na superfície, uma faixa com a largura de 20 metros acompanha esse percurso subterrâneo. Nesse local, é proibido qualquer escavação ou construção, de acordo com o Decreto Federal de 28/08/1996.

Faixa de servidão, como é chamada a área de exclusão, em Apiaí/SP, trecho sul do Gasoduto Bolívia-Brasil. Retirado do site da empresa controladora do gasoduto, TBG.

Atravessa 5 estados brasileiros (MS, SP, PR, SC e RS), abastecendo indústrias por onde passa. Essas unidades federativas representam, juntas, cerca de 50 % do PIB brasileiro (somente SP é 32%). O interessante é que o Brasil já possuía uma rede de gasodutos anterior ao boliviano, sendo assim, após conectados, outras regiões do país podem usufruir do gás internacional, da mesma forma que as indústrias paulistas também podem utilizam o gás nacional, retirado das Bacias de Campos-RJ e Santos-SP.

A transportadora responsável pelo Gasbol é a TBG, controlada pela Petrobras (51% das ações). Saiba mais no site da própria empresa. 

Traçado do Gasoduto Bolívia-Brasil (Vermelho). Imagem: Internet.

Choque de 2006

Em 1º de maio  de 2006, 7 anos após o gasoduto entrar em operação, o recém empossado  presidente da Bolívia, Evo Morales, decretou a nacionalização do setor de gás e petróleo do país. Refinarias, inclusive da Petrobrás, foram invadidas e ocupadas pelas forças armadas da Bolívia.

Evo é presidente da Bolívia até os dias de hoje. Foi líder sindical dos cocaleros, agricultores que cultivam a coca, cuja folha é utilizada em chás ou mascada. De orientação socialista, é contra a influência norte-americana no continente. Imagem: Internet.

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Outra medida foi a ampliação do imposto cobrado sobre a exploração do gás, subindo de 50% para 82%. Isso encareceu o produto para o nosso consumidor. Essas ações foram um enorme baque nas relações entre os dois países.

A partir desse imbróglio, voltamos nossas atenções para outras formas de se obter gás natural, deixando a Bolívia com uma importância cada vez menos em nosso consumo. Antes, ele foi construído para representar metade de nossa necessidade, atualmente orbita algo próximo a 25%. O restante compramos de outros países via navios ou retiramos de nossas próprias reservas, que vem aumentando bastante após a descoberta do Pré-Sal.

Nosso blog compreende a importância e segurança existente na nacionalização de importantes commodities energéticas, sobretudo em um país tão pobre quanto a Bolívia. Entretanto, não se pode mudar as regras do jogo com ele em curso, temos um contrato até 2019 e os investimentos brasileiros no país vizinhos estavam embasados em um determinado patamar de preços. Com certeza, tomamos uma rasteira.

Quanto as refinarias de petróleo, a Bolívia pegou uma indenização de 112 milhões de dólares ao Brasil pela estatização das mesmas. Esse valor foi considerado irrisório pelos especialistas.

Lula e Evo Morales, juntos, em 2015. os dois sempre tiveram boa relação apesar da crise. Imagem: REUTERS/Odair Leal. Veja reportagem completa no site do jornal Estado de SP. 

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Na época, até uma guerra contra nossos vizinhos foi ventilada por setores mais radicais da sociedade. O importante é que todos sobrevivemos a esse terremoto e qualquer situação mais grave foi debelada. O governo Lula, responsável pelo Brasil naquele momento, parece ter absorvido esse prejuízo por ter boa relação com Evo Morales.

Incertezas

Múltiplos problemas assombram o futuro dessa imensa obra, com contrato chegando ao fim em 2019. O primeiro são as reservas bolivianas, que vem caindo  nos últimos anos. Outro fator que coloca o gasoduto em xeque são as reservas brasileiras, principalmente no que se refere ao Pré-sal, tornando nosso país autossuficiente no setor. Ótima notícia para nós, entretanto, ficaremos com esse Frankenstein enterrado em nossa terra, completamente sem função.

CLIQUE PARA AMPLIAR. Percentualmente, o gás boliviano vai significando cada vez menos para o Brasil. Nosso foco agora é a produção interna. Imagem: Internet.

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Também teremos que observar qual preço os bolivianos irão cobrar, além da demanda brasileira, em queda nos últimos anos devido a fraca economia. O Brasil representa 75% do destino do gás boliviano. A commoditie energética é quase metade de tudo que nosso vizinho exporta. Esses fatos nos dão boas condições de negociação.

Esse é mais um problema que nosso blog irá acompanhar  de perto nos próximos anos.

Espero ter aumentado seu conhecimento. Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!

Publicado em 30.11.2017

 

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