89. Chê – Morre o Homem, Nasce o Mito

Em nosso último texto observamos que Chê estava incomodado em Cuba, desejava algo vários patamares acima do que já haviam feito. Para isso, abandonou a pequena ilha e partiu para a guerrilha. Este texto finaliza a trajetória de Ernesto Guevara em nosso blog.

Chê. Imagem: Internet.

Chê. Imagem: Internet.

Saída de Cuba – Congo

Em 1965, Chê renunciou aos cargos e a nacionalidade cubana, abandonou o país para dar prosseguimento ao seu plano internacional. Viajou para o Congo com cerca de 100 guerrilheiros cubanos.

Em solo africano, a guerrilha capitaneada por chê foi um total fracasso. Com um contingente pequeno, sem nenhum conhecimento dos costumes, crenças religiosas e das relações intertribais do povo do Congo, não obteve apoio e nem a adesão significativa de voluntários.

Entre os congoleses não havia a mínima disciplina, além de acreditarem no dawa (corpo-fechado) e na magia dos feiticeiros. Sequer queriam transportar os equipamentos e alimentos. Percebendo a ineficiência de sua guerrilha, muito a contra gosto, Chê abandonou o Congo e se refugiou, em segredo, na embaixada cubana na Tanzânia, onde foi se recuperar de uma série de doenças adquiridas na selva.

Chê no Congo: Imagem: Internet.

Chê no Congo: Imagem: Internet.

Bolívia

Saindo do continente africano, Chê partiu para a Bolívia, onde faria uma escala estratégica. Em sua sede revolucionária, já vislumbrava o passo seguinte, seu país natal, a Argentina.

A forma como entrou no país foi digna de filme. Em novembro de 1966, um comerciante de couros uruguaio chamado Adolfo Mena González registrou-se num hotel em La Paz, capital da Bolívia. Era o disfarce do guerrilheiro, já procurado por todos os serviços secretos possíveis. Até o governo brasileiro caçava Chê, veja em reportagem do Estadão. 

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Chê careca, disfarçado de homem de negócios uruguaio. Imagem: Internet.

O chefe do Partido Comunista Boliviano, Mário Monje, comprou uma fazenda próximo da selva. A partir dali, Chê começaria uma nova aventura. Monje exigiu que a guerrilha fosse chefiada por um boliviano, Chê recusou. Era apenas o início dos problemas.

Se na África a situação foi ruim, na Bolívia foi bem pior. O terreno era totalmente desconhecido e diferentemente da Sierra Maestra e os guerrilheiros não tinham nenhum apoio dos camponeses locais. Nenhum componente sequer falava a língua indígena dos nativos.

A cada vila que entravam, eram recebidos como problema. Líderes locais e pessoas comuns não demoravam para delatar quando e onde a guerrilha havia sido vista por último.

Existe a possibilidade de Fidel, sabedor das condições de Chê, tê-lo abandonado, não enviando ajuda. Para Castro, Chê havia se tornado um estorvo. As ideias de  seu braço direito eram megalomaníacas demais. Até mesmo a URSS havia pedido para Fidel controlar seu parceiro, que criticava os norte-americanos, mas também os soviéticos. As guerrilhas de Chê estavam causando grande rebuliço internacional e sua morte, era desejo de todas as potências.

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Uma das raras fotos de Chê na Bolívia. Imagem: Internet.

Sem ajuda de Havana, isolado, doente e cansado, Chê foi caçado por uma milícia boliviana, formada por 70 homens, treinados pelos norte-americanos única e exclusivamente para pega-lo.

Em 8 outubro de 1967, o capítulo final. Em um vilarejo chamado La Higuera, Pedro Pena, um camponês interessado em receber a recompensa de US$ 4.200, delatou a posição de Chê e 17 homens leais a ele. Além do grupo principal, cerca de 1.500 soldados bolivianos davam suporte a ação nas imediações. Os guerrilheiros foram cercados e executados.

Interessante, mas hoje existe uma estátua de Chê no vilarejo onde foi capturado e morto. Demoraram mas entenderam o que ele representava. Imagem: Internet.

Interessante, mas hoje existe uma estátua de Chê no vilarejo onde foi capturado e morto. Demoraram, mas hoje entendem o que ele representa. Imagem: Internet.

O corpo de Chê permaneceu sumido por mais de 30 anos. Até morto ele representava perigo aos governantes. Seus restos mortais só foram encontrados em 1997 e trasladados para Cuba, onde, foi  recebido com honras de herói nacional. Hoje repousa em Santa Clara.

Conclusão

Chê era assassino ? Para alguns sim, mas quem distribui  beijos aos seus adversários em uma guerra?

Tinha defeitos e tomou atitudes equivocadas? Sim, nunca escrevi que Chê fosse um homem perfeito, exalando somente virtudes.

O que vale é a análise completa de sua biografia. Difícil encontrar alguém que, morto ha 48 anos, ainda possa gerar 4 textos em nosso blog, idolatria, ódio e discussões acaloradas que perdurarão por um bom tempo.

Considerada a foto mais famosa do Século XX, tirada por Alberto Korda. saiba mais sobre esta foto no site da BBC.

Chê, na foto Considerada a  mais famosa do Século XX, tirada por Alberto Korda. saiba mais sobre esta foto no site da BBC.

Ao morrer aos 38 anos, um jovem senhor, Chê teve sua imagem de revolucionário preservada para sempre, nunca envelhecerá. Não tem, ou não deve ter,  seu nome ligado a ditadura de Castro e toda desilusão causada por décadas ininterruptas no poder. Toda censura e perseguições existente no governo cubano nos últimos 56 anos, não podem cair na conta de um homem, que só participou dos primeiros 6.

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Escultura em Cuba homegeando Chê com a célebre frase: “Hasta la victória siempre”

Abandonou todas as mordomias que os seus cargos lhe proporcionavam em Cuba e se embrenhou florestas a dentro buscando seu ideal. Não ficou rico, não teve grandes posses mas deixou um exemplo de quem lutou por um mundo mais homogêneo. Deixou 5 filhos.

Ernesto Che Guevara (pai), Aleida (mãe) e os filhos Ernesto, Camilo, Aledita e Célia. Imagem: Internet

Ernesto Che Guevara (pai), Aleida (mãe) e os filhos Ernesto, Camilo, Aledita e Célia. Imagem: Internet

Espero ter aumentado seu conhecimento.  Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!

Publicado em 25.11.2015

 

Veja a infinidade existente de produtos Chê Guevara em uma pesquisa no site Google.

Bibliografia lida e consultada:

Anderson, Jon Lee – Che Guevara, uma biografia – Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 1997

Castañeda, Jorge G. – Che Guevara, a vida em vermelho – São Paulo, Cia. das Letras, 1997

Rojo, Ricardo – Meu amigo Che, Rio de Janeiro, Editora Civilização brasileira, 1968

2 comments to “89. Chê – Morre o Homem, Nasce o Mito”
  1. Excelente texto. Já ouvir dizer a respeito da morte de Che que quando capturado foi ferido na mão mas mesmo assim continuou atirando chegando a ferir alguns soldados bolivianos. Porem mesmo sendo capturado ainda orientava os soldados como tratar dos ferimentos . Nao sei se isso foi verdade .

    • Osmar, realmente já li sobre isso. Como a captura dele foi feita por um número relativamente pequeno de soldados especiais, e todos do lado de Chê foram executados, pouquíssimas testemunhas podem dizer exatamente como foi. O que podemos dizer é onde, os motivos e quando.
      Dizem que Chê teria morrido como herói, lutando até o fim, outros textos dizem que ele pediu para não ser morto, enfim, dificilmente teremos a certeza dos fatos. Por isso mesmo foco na trajetória dele, pouco importando os detalhes de sua morte.

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