217. Período Joanino (1808-1821)

Em nosso último texto abordamos a fantástica fuga da elite portuguesa de seu país, além da chegada ao Brasil. O post de hoje completa o tema, mostrando como este fato mudou a história de nosso país.

Impactos no Brasil

A partir desse episódio o Rio de Janeiro se tornou a capital do Império Português. A princípio a família real foi alocada em 3 prédios no centro da cidade e os nobres espalhados por casas confiscadas, conventos e até mesmo quartéis militares.

Uma curiosidade, nas residências apreendidas pelo governo eram gravadas as iniciais “PR”, de “Príncipe Regente”. Logo, o povo começou a sugerir novos significados como “Ponha-se na Rua” ou “Prédio roubado”.

Parece inacreditável, mas o governo dava 3 dias para que as pessoas se retirassem da própria casa, deixando para trás mobílias e até mesmo as carruagens. Imagem: Internet.

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Após a turbulenta chegada, o comerciante português Elias Antônio Lopes, famoso por ter a melhor casa do Rio de Janeiro, se antecipou, doando a propriedade a Dom João, que, muito agradecido, recompensou o patrício com outra propriedade. O terreno está localizado onde hoje é a Quinta da Boa Vista, mais tarde, se tornou também a casa dos imperadores Dom Pedro I e II. Atualmente abriga o Museu Nacional, completamente destruído em um incêndio no dia 2 de setembro de 2018.

Museu Nacional, antiga casa de Dom João VI, Dom Pedro I e II. Infelizmente o museu está completamente destruído atualmente. Imagem: Museu Nacional.

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Em 1º de abril de 1808, Dom João revogou a proibição de manufaturas no Brasil. Com isso, surgiram fábricas de ferro e pólvora em São Paulo e Minas Gerais.

Poderia ter sido o início de uma industrialização no Brasil, mas a Inglaterra forçou o governo português a assinar o “Tratado de Comércio e Navegação”, em 1810. Foi o sepultamento das nossas pretensões industriais, já que, a partir desse fato, os produtos britânicos passaram a entrar no Brasil com um imposto irrisório de 15%. Esse valor era menor até mesmo que o praticado a itens portugueses, taxados em 16%. Sobre produtos de outros países a alíquota era de 24%.

Fomos inundados por produtos da Inglaterra, país que já atravessava a Revolução Industrial, dominando tecnologia para produzir itens de boa qualidade a um preço razoável. Dessa forma, o surgimento de empresas nacionais foi sufocado.

Por ordem cronológica, outros importantes avanços promovidos durante a estadia de Dom João pelo Rio de Janeiro:

  • Em 5 de maio de 1808, foi criada a Real Academia dos Guardas-Marinhas, no Rio de Janeiro, atual Escola Naval. Na verdade, ela já existia em Lisboa, tendo sido transferida para o Brasil junto a vinda da corte;

Foto da Escola Naval, centro formador de oficiais da marinha, atualmente localizada em uma ilha anexa ao Aeroporto Santos Dumont. Imagem: Internet.

  • Em 13 de maio de 1808, foi criada a Imprensa Régia, onde foi produzido o primeiro jornal do Brasil, a  Gazeta do Rio de Janeiro;

O primeiro número do primeiro jornal do Brasil. Imagem: Biblioteca Nacional.

  • Em 13 de junho de 1808, ganhamos o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Atualmente, conta com 6.500 espécies da flora brasileira e internacional, distribuídas por uma área de 54 hectares;
  • Em  12 de outubro de 1808, foi erguido a primeira instituição bancária em nosso país, o Banco do Brasil;
  • Em 5 de novembro de 1808, foi criada a Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, atualmente ligada a UFRJ;
  • Em 28 de outubro de 1810, foi a vez da Biblioteca Real,  com livros trazidos de Portugal, entre eles a primeira edição de Os Lusíadas, de Luís de Camões. Atualmente se chama Biblioteca Nacional e está localizada na Praça Cinelândia, Rio de Janeiro;

A Bibliteca Nacional possui hoje um acervo de mais de 9 milhões de obras. Saiba mais no site oficial.

  • Em 4 de Dezembro de 1810, surgiu a Academia Real Militar. Séculos mais tarde mudou de lugar e deu origem a  Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN);
  • Em 1815 ocorreu um passo significativo para o que viria a ser nossa Independência mais a frente, foi criado o Reino Unido de Portugal, Brasil  e Algarve, com capital no Rio de Janeiro. A partir desse momento, deixamos oficialmente de ser uma colônia;
  • Em 1816, após a derrota final de Napoleão e o fim das hostilidades, a família real promoveu a  vinda de uma enorme missão artística francesa ao Brasil, criando a  Academia de Belas Artes e atualizando nosso país com as mais recentes novidades na área, entre elas o neoclassicismo;
  • Em 6 de junho de 1818, foi criado o  Museu Real. Em 1892, após o fim do Império, ele foi transferido para a antiga moradia dos imperadores brasileiros, já com o nome de Museu Nacional (Como já citado antes, destruído por um incêndio).

Todas essas mudanças criaram um ambiente que, mais a frente, levou o Brasil a sua independência. Não poderíamos mais voltar a ser colônia após tantos avanços artísticos, culturais, científicos e bélicos.

As Cortes

Em 1820, com a Europa livre da ameaça napoleônica, eclodiu uma revolta na cidade do Porto, a Revolução Liberal, exigindo o retorno do rei e a normatização da relação entre Portugal e Brasil. Dessa forma, os portugueses exigiam que os brasileiros voltassem a ser colonizados.

Os insurgentes lusitanos criaram o que ficou conhecido como as “Cortes”¹, uma espécie de Congresso Nacional, com amplos poderes de produzir leis, diminuindo o alçada do rei . Para os portugueses insurgentes, não existiam mais motivos que justificassem a permanência de Dom João no Brasil.

As Cortes Constituintes de 1820, pintada por Oscar Pereira da Silva.

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Com receio de perder o poder em Portugal, consequentemente no Brasil, Dom João VI voltou ao seu país em 1821, deixando seu filho, Dom Pedro I, como Príncipe Regente do Brasil.

Próximo Texto

Nosso próximo post fecha a trilogia, com a principal consequência do retorno de Dom João, a Independência do Brasil, imperdível.

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1 – Cortes: O nome oficial era “Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa”.

Publicado em 25.09.2018