130. Blocos Econômicos: Brexit

Antes de iniciarmos nosso tema central, leia um texto de nosso blog chamado “É Inglaterra, Grã-Bretanha ou Reino Unido?”. É importante que nosso leitor saiba diferenciar os 3 termos.

Como observado no post anterior, a União Europeia é um grande sucesso. Após séculos de rivalidades, inúmeros conflitos e duas guerras mundiais, enfim, os países europeus superaram suas desavenças e formaram o bloco econômico mais integrado do mundo.

Cidadãos, mercadorias, serviços e capitais circulam entre as fronteiras dos 28 membros da importante organização. Sempre foi um grande orgulho dizer que nenhum país saiu da União Europeia…até agora.

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Durante o Império Romano (governo de Trajano no mapa), a Europa esteve unificada, mas sob o julgo tirano de Roma. Imagem: Internet.

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A Europa já esteve, de forma forçada, quase toda unificada no passado. Exemplos disso são o Império Romano, a Era Napoleônica e o Nazismo. Diferente desse passado bélico, a União Europeia é uma instituição democrática, de onde cada país pode sair caso seja interesse de seu povo.

Economicamente, não existem motivos para se sair do bloco, ou se existem, são bem menos importantes que os benefícios gerados por estar nele.

Por que o desejo de sair cresce em parcelas das sociedades de algumas nações?

Migração e Xenofobia

Sempre existiu no seio das nações mais desenvolvidas do bloco um sentimento negativo em relação a livre circulação de pessoas. Setores mais conservadores nunca se sentiram confortáveis com a presença de imigrantes, mesmo sendo europeus.

Os fluxos migratórios em direção a Europa sempre foram grandes desde a integração. Do Leste Europeu, mais pobre, persistiu por anos uma corrente em direção a nações como Alemanha, França e Inglaterra. Russos e turcos também migraram, se aproveitando da porosa fronteira oriental da UE com países fora do bloco. Nigerianos,  argelinos, marroquinos, entre outros africanos, também estão entre os imigrantes, vindos pelo Mar Mediterrâneo.

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Espanha, Itália, Grécia e o Leste da União Europeia sempre foram áreas de penetração de imigrantes ilegais. Mapa: Internet.

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Síria, Iraque e o Estado islâmico

O que já era forte, se intensificou. O início da guerra na Síria, que transbordou para o Iraque, resultando no surgimento do ISIS (Estado islâmico), adicionou um novo e  gigantesco contingente de imigrantes a essa equação, que já não era muito simples.

Desde a eclosão do conflito sírio,  um enorme volume de refugiados fugiu do país, tentando se salvar da morte certa.  Agora, a migração não é só econômica, é questão de sobrevivência.

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Explosão em Damasco, capital da Síria. Este é o maior conflito da atualidade, reverberando em boa parte do mundo, inclusive na Europa. Imagem: Internet.

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Grande parte desse povo sofrido tentou recomeçar suas vidas em outros lugares, principalmente na Europa, região promissora e relativamente próxima. Esta perigosa  jornada, em muitos casos atravessando mares revoltos, foi tema de nosso blog no texto “Tragédia no Mediterrâneo”.

Ao entrar em qualquer membro da União Europeia, o refugiado tem facilidades para circular entre os países do bloco. Itália, Grécia e países do Leste Europeu se transformaram em uma porta de entrada para os sírios e iraquianos.

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A Síria lidera o número de refugiados no mundo, quase 4 milhões. Grande parte desse contingente se direciona a Europa. Fonte: Acnur/ONU

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Todo este monumental deslocamento humano fez crescer na Europa um sentimento xenófobo. Estar em uma ilha, relativamente distante do Mediterrâneo, protegeu os ingleses deste novo fluxo sírio. A Inglaterra sempre recebeu muitos imigrantes, mas dessa leva atual nem tanto, protegida pelo Canal da Mancha.

Como exemplo, até junho de 2015, a Alemanha recebeu 98.783 mil solicitações de refúgio para sírios, contra apenas 7.030 na Inglaterra. Veja reportagem completa no site da BBC.

Não querendo participar do problema, parte dos ingleses optaram por se proteger ainda mais, saindo do bloco.

A demonstrator for the "Leave" campaign holds a placard outside Houses of Parliament in London, U.K., on Wednesday, June 15, 2016. The Brexit battle took to London's River Thames as boats supporting the "Leave" and "Remain" campaigns jostled for space, while Irish rock star Bob Geldof harangued U.K. Independence Party leader Nigel Farage using a sound system. Photographer: Luke MacGregor/Bloomberg via Getty Images

“Nós queremos nosso país de volta, vote para sair”. Placa a favor da saída britânica do bloco. Photographer: Luke MacGregor/Bloomberg via Getty Images.

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Por causa deste sentimento xenófobo, o Partido Conservador britânico, liderado pelo primeiro-ministro David Cameron, incluiu no programa eleitoral de 2015 a renegociação do papel britânico na União Europeia

Vencedor, cumpriu sua promessa, e um referendo ocorreu em 23 junho de 2016 no Reino Unido para decidir se a população pretendia permanecer ou sair da União Europeia.

Por mais de 1,2 milhão de votos venceu a saída do bloco. Brexit é a junção das palavras British (Grã-Bretanha) e Exit (saída em inglês). Neste caso, a  Grã-Bretanha representa figurativamente o Reino Unido.

Resultado apertado, 51,9% votaram a favor da saída, enquanto 48,1’% foram contra. veja reportagem completa no site do jornal El País.

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A vitória do Leave gerou uma onda de xenofobia na Inglaterra, com lojas e muros pichados. O alvo principal são os poloneses. Imagem: Internet.

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A vitoriosa xenofobia inglesa pôde ser confirmada nas centenas de mensagens “Voltem pra casa”, em especial para os poloneses, que inundaram as redes sociais após o resultado do plebiscito no Reino Unido. Veja no site da BBC.

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Cidades menores da Inglaterra votaram no Leave. A capital votou na permanência. Imagem: Internet.

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Provavelmente, impulsionado por um saudosismo em relação a Inglaterra do passado, pessoas com idades mais avançadas e, principalmente, moradores de cidades médias e pequenas, votaram pela saída do bloco.

Londres, uma cidade mundial, capitalista e com inúmeras colônias de estrangeiros, pelo contrário, votou maciçamente pela permanência.

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A cosmopolita Londres preferiu ficar. Imagem: Internet.

Consequências

Talvez os britânicos ainda não tenham o real entendimento do que fizeram.

A verdade é que todos perderam: A União Europeia, que perderá um forte membro, o que pode ser o início de uma desagregação maior. A Inglaterra, que terá seus produtos taxados pelos membros do bloco, perdendo competitividade. Além disso, como também o produto da União Europeia será taxado, chegará mais caro para os britânicos. Um equívoco sem tamanho.

Outra possibilidade é a própria dissolução do Reino Unido, já que Escócia e Irlanda do Norte votaram majoritariamente pela permanência.

Os escoceses em especial preocupam. Há alguns meses, votaram pela permanência ou não do país no Reino Unido.  Permanecer venceu, exatamente pelo fator oposto ao de hoje. Naquele momento, sair do Reino Unido, automaticamente, também significava sair da União Europeia. Quis o destino que a situação se invertesse. Hoje, sair do Reino Unido pode significar a continuidade escocesa no bloco.

Um novo referendo pode ser feito e ter um resultado diferente. A possível saída da Escócia foi tema de nosso blog na época, texto 10, confiram. 

O futuro é incerto. Sequer sabemos se realmente o reino Unido irá sair, como pode ser observado em matéria do site Observador. Se o povo britânico acertou ou errou, o tempo com certeza irá nos mostrar, mas a princípio, essa desunião não foi boa para ninguém.

Espero ter aumentado seu conhecimento. Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!

PS: Acessem os hiperlinks contidos no texto para melhor entendimento da matéria. São sites de grande renome, como da BBC de Londres e do jornal espanhol El País.

Publicado em 10.08.2016