28. Direita e Esquerda!

Por várias vezes, meus alunos vieram me perguntar o que é Esquerda e Direita, termos bastante comuns em debates políticos, e muito usados por aqueles que querem desqualificar a discussão nos dias de hoje e em espaços impróprios ao debate.

Reprodução: Internet

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No mundo moderno, cientistas políticos sugerem que a classificação para Direita e Esquerda já perdeu seu significado. Reina uma confusão proposital em que os partidos políticos são mais reféns do próprio poder que disputam, do que ligados a essa ou aquela ideologia.

Revolução Francesa 1789

Os termos Direita e Esquerda remontam a Revolução Francesa.

Em 1789 a França estava um caos completo, e o rei convocou a Assembleia Nacional, tentando uma solução para o impasse. Segundo os historiadores, os membros desse protótipo de congresso que defendiam a monarquia e o status quo, sentavam-se a direita do rei. Por outro lado, os representantes mais populares, que defendiam uma reforma brutal no país, com maior distribuição de rendas e terras sentavam-se a esquerda do monarca.

Os políticos à direita representavam o interesse de grupos dominantes e a conservação dos interesses das elites. Por sua vez, os políticos à esquerda teriam uma orientação reformista, baseada na conquista de benefícios para as classes sociais menos privilegiadas.

Reunião dos Estados Gerais na França. A direita da mesa central, o Clero e a Nobreza, a esquerda, o 3º estado. Imagem:http: fabricadahistoria.blogspot.com.br

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Os anos se passaram, a política francesa mudou, ficou mais complexa, mas os termos se perpetuaram  no imaginário coletivo e nas relações político-sociais em todo o planeta. Ressalta-se que esta evolução, permitiu incluir o Centro e outras denominações que misturam de tudo um pouco.

Capitalismo x Socialismo

Os acontecimentos, históricos e geopolíticos, a partir da segunda metade do Século XVIII, que antecederam e sucederam a Revolução Francesa (1789-1799), até a primeira metade do Século XX, formaram as chamadas Revoluções  Industriais, nas quais, os meios de produção mudaram o mundo de maneira definitiva.

Na segunda metade do Século XX, surgiram, simultaneamente a Guerra Fria,  modelos político-econômicos que se debatiam.

De um lado, o modelo liberal/capitalista, mais identificado com a proposta norte-americana, se transformou na Direita, e o modelo social/comunista , capitaneado pela antiga URSS, ficou identificado como a Esquerda. No Brasil, durante a ditadura militar, patrocinada pelos EUA, quem fosse contra o regime era chamado de Comunista, Esquerdista.

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Guerra Fria: Muito além de direita e esquerda, capitalismo e socialismo, uma corrida armamentista sem precedentes. Imagem: fehet.blogspot.com.br

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Pós Guerra Fria

Com a queda do Muro de Berlim, esses termos se perderam, em um mundo onde os interesses não podem mais ser reduzidos a dois grupos. Podemos destacar hoje, no continente europeu,  vários espectros políticos, como socialistas, ecologistas, liberais, democratas cristãos, conservadores e a extrema-direita.  Esta última, perigosa,  avança na Europa atual, com ideias racistas e xenófobas¹.

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Esquerda e Direita. Personagens polêmicos nos dois espectros da política. Imagem: Revista Mundo Estranho

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Brasil

Por aqui, temos partidos que se dizem centro, como o fisiológico² PMDB, outros ligados a igrejas evangélicas, classes operárias, indústrias armamentistas e latifundiários. A base aliada se diz de esquerda, mas contém partidos historicamente de direita, como o PP, descendente da antiga ARENA. O bloco de oposição, coloca no mesmo barco uma legenda de direita clássica, o DEM, e um herdeiro do Partido Comunista, o PPS.

Um exemplo dessa bagunça ideológica  está registrada em uma reportagem do site UOL. Partidos como PSD, PP, PR, PMDB, PDT e Pros, que apoiaram a candidatura da Presidenta Dilma do PT, ao mesmo tempo, nas eleições para Governador, estavam mais ligados ao PSDB. Um bacanal eleitoral:

“Nas coligações para governador, PSD, PP e PR dividem bem mais chapas com tucanos do que com petistas. O PSD está com o PSDB em 14 coligações e com o PT em apenas sete. O PP está com os tucanos também em 14 coligações e divide palanque com o PT em seis Estados. O PR tem oito coligações com o PT e 12 com o PSDB.

O PMDB está dividido: em dez Estados apoia ou é apoiado pelo PT e em nove está com o PSDB. PDT e Pros são mais fieis ao PT. O partido fundado por Leonel Brizola está coligado com o PT em 13 chapas e com o PSDB em sete. Já o Pros está com os petistas em 11 Estados e com os tucanos em nove.”

Portanto, dizer Esquerda e Direita hoje é, no mínimo, inocente.

Charge provocativa, em relação a falta de ideologia e alianças dos maiores partidos políticos do Brasil. Imagem: Internet

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Espero ter aumentado o conhecimento de todos os leitores. Curtam nossa página no Facebook e compartilhem nosso texto! Abraço do Clebinho!

Publicado em 26.04.2015

1 – Xenofobia: Ódio, intolerância em relação aos estrangeiros e descendentes deles.

2 – Fisiologismo: Prática política em que os partidos aderem ao governo em troca de cargos em órgãos públicos e empresas estatais, a despeito de divergências ideológicas ou programáticas

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2 comments to “28. Direita e Esquerda!”
  1. Apesar de muito bem escrito e fundamentado o texto eu discordo em alguns pontos. “liberal/DEMOCRÁTICO/capitalista” onde os meios de produção se encontram nas mãos de menos de 1% da população; onde a mídia é controlada por interesses da classe alta dominante; onde o interesse individual impera sobre o interesse de todos.
    Democracia então se restringe ao meu voto, influenciado ou não, possuir o mesmo peso que o seu? Ou esse “DEMOCRÁTICO” consiste em um rótulo propagado propositalmente com interesses subliminares?
    E só complementando, pois não estou contrapondo pois citou somente hodierno, o PT já foi um partido de esquerda, quando essa ideologia satisfazia os seus interesses. E temos sim partidos com ideologias esquerdistas no Brasil hoje ainda, como: PSOL, PSTU, etc. As ideologias esquerdista/conservadora nasceu sim durante a revolução francesa como disse, porém sua evolução, como todos os movimentos que se transformam ao longo do tempo, as modificou, as transformou e as adaptou. Quando o assunto é dizer que Direita/Esquerda inexiste ou sub-existe no Brasil, parafraseando-o, é no mínimo, inocente.

    Um abraço!

    • Primeiro parabéns pelo texto, são visitantes como você que engrandecem o blog. Na verdade, você não está discordando de mim, e sim das democracias capitalistas. Vamos ver o caso do Brasil, na teoria, todos nós podemos eleger e ser eleitos, mas na prática, um deputado federal gasta milhões de reais em sua campanha. Tirando casos atípicos como o Tiririca, a maioria esmagadora dos eleitos são oriundos da elite ou tem ligações direta com ela. Nesse ponto concordo com você, somos todos iguais, mas uns são mais iguais que outros. Quanto a ter partidos de esquerda como o PSOL e PSTU, realmente temos, mas são partidos minúsculos. Para um partido desses crescer, teria que vir mais para o centro, como o PT fez, mas isso os descaracterizariam. É o famoso cobertor pequeno. O que precisamos fazer no Brasil é uma reforma política e uma mudança radical nas campanhas eleitorais. Hoje, o que temos são campanhas de marketing, caras, com atores globais e que pouco acrescentam ao debate. Eu defendo campanhas mais baratas e com o candidato falando, de preferência ao vivo, sem recursos. De resto, continue participando.

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